“Muitas pessoas ouvem
essa ideia do desapego e pensam que é uma espécie de desassociação“, diz o psicoterapeuta
canadense e professor de Yoga e Budismo Michael Stone, no início desse vídeo de 4min sobre “O Coração
do Desapego” (The
Heart of Non-Attachment). “Não vou me apegar a como as coisas são,
nada pode me abalar, e, de uma certa maneira, eu também pensei que a prática
espiritual, e a meditação especialmente, seria um jeito de me isolar do
sentimento, mas na verdade as coisas não funcionam desse jeito”, diz ele.
Tirando um pouco do materialismo simplista que ficou colado nessa expressão (de
desapego somente ligado à objectos de posse), Michael Stone propõe
uma releitura dessa expressão, do inglês “non-attachment“, dizendo que o desapego é a ideias fixas e a uma mentalidade fechada, justamente para evitar que desapego
seja também só da “parte ruim” da realidade. Assim, desapego seria estar aberto a tudo, uma intimidade e um envolvimento verdadeiros com
todas as coisas.
Desapego, assim, seria apenas soltar
aquilo que foi “pego” de início e mantido “fixo”, como se fosse permanente. Ou
como achamos que deveriam ser. Uma frase do filósofo dinamarquês Søren
Kierkegaard, contida no documentário “Mundos Interiores Mundos Exteriores“,
diz que “Se você me dá um nome, você me nega“. Neste sentido, até um
nome pode significar apego, negação do que é, e pode significar a tentativa de
fixar uma ideia ou um conceito a alguma forma inerentemente
impermanente. Deixar de fixar significaria um desapego, neste caso.
Ou como
diria (e de fato disse, segundo os registos) o sábio indiano Sri Nisargadatta Maharaj (1897-1981),
“não é o que você faz que importa, mas o que você deixa de fazer“. E quem deixa
de fazer somos nós com nossos movimentos mentais de nomeação, conceptualização, fixação e apego. Levado às últimas
consequências, os sábios apontam que o próprio “eu” deve ser
uma ideia ou conceito a ser investigado – e solto.
“Iluminação é intimidade com todas as coisas”.
Mestre Dogen (1200-1253)
in dharmalog